Dicas Práticas para Professores e Mediadores de Crianças Autistas - Carla Ulliane

Dicas Práticas para Professores e Mediadores de Crianças Autistas

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No post passado, trouxe para você um texto destacando o elemento primordial para a inclusão do aluno com autismo: o Mediador Escolar. Se você ainda não viu, clique neste link. Neste texto explico o que é e seu papel na vida escolar de um aluno com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Agora a intenção é proporcionar dicas úteis e práticas para auxiliar esse profissional no processo de mediação do aluno com o professor, amigos e demais funcionários da escola. Como a criança com autismo apresenta dificuldades comunicativas, comportamentais e de interação social, é necessário focar em sugestões cotidianas que contemplem essas três dimensões.

É necessário relembrar qual o papel do mediador. Esse profissional serve como um meio facilitador no que diz respeito às questões de ordem social, comportamental e linguística. Ele vai intermediar processos interacionais e dialógicos entre a criança autista e seus coleguinhas com a inserção em atividades sociais, criando laços afetivos e construindo relações com outras crianças da mesma idade. De acordo com Renata Mousinho, esse processo de mediação é essencial devido:

“A possibilidade de considerar o foco atencional do outro, ou seja, seus interesses e chamar a atenção do outro para objetos ou assuntos de interesse mútuo constituem importantes capacidades para a aquisição e o desenvolvimento da linguagem, de habilidades sociais e das relações sociais. O seu aprimoramento permite o uso dos gestos, o contato físico e a linguagem para deliberadamente influenciar e dirigir o comportamento do outro durante a comunicação. Essas habilidades também possuem uma forte relação com a possibilidade de interpretar e compartilhar emoções e intenções levando em consideração experiências anteriores não só relacionadas a eventos como também em relação a temas de conversação. Compartilhar a atenção, dividir emoções e expressar suas intenções facilitam o engajamento no processo de comunicação social recíproca.”

O trabalho do mediador é extremamente importante para a inclusão do aluno com autismo. O que o mediador pode fazer na rotina escolar para intermediar esse processo da melhor forma possível? Como o mediador pode estimular a comunicação do aluno? As respostas são simples, pois há diversas maneiras e eu vou citar algumas delas.

O mediador deve proporcionar à criança com autismo a possibilidade de construção de uma linguagem oral espontânea e funcional. Assim algumas estratégias necessitam ser incluídas para que esse objetivo seja alcançado.

Crianças autistas e mediadoresÉ necessário o trabalho para possibilitar o aumento do contato visual, assim como o reconhecimento geral de expressões faciais. É necessário também que a criança compreenda a chamada reciprocidade social, ou seja, perceber se sua comunicação foi satisfatória, realizar pequenos ajustes quando necessário e insistir no ato comunicativo.

Durante a interação adulto/criança ou criança/criança é imprescindível buscar estimular a imaginação por meio da brincadeira simbólica. A grande maioria das crianças com autismo possuem o pensamento bastante concreto, com isso apresentam dificuldades nas habilidades de imaginação como o faz de conta, por exemplo.

Uma dica importante é estimular o direcionamento do olhar para o objeto desejado ou para a pessoa que está falando. Neste sentido, há uma ideia de “triangulação do olhar”, isto é, a criança olha para a pessoa e para o objeto de modo alternado, fechando assim os vértices de um triângulo por meio do olhar.

Uma sugestão é reforçar as informações auditivas com o auxílio de pistas visuais como fotografias, objetos ou até mesmo figuras, pois crianças com autismo aprendem muito pelo visual. Ao realizar antecipação de algum acontecimento que, por ventura, venha quebrar a rotina é interessante usar fotos de pessoas, lugares ou até mesmo emoções (alegria por estar naquele lugar e com determinada pessoa). O objetivo é proporcionar a compreensão de que algo novo está por vir e preparar o aluno para se adequar a essa mudança.

No que se refere à construção de um diálogo, é preciso considerar alguns pontos para melhor participação da criança nesse contexto comunicativo de trocas de turnos. Lembrando que um diálogo precisa ser simétrico, ambos precisam falar metade das vezes. Por isso, cuidado para não tornarem seus momentos de interação verdadeiros monólogos!!

Como construir um diálogo com uma criança autista?

O primeiro ponto a ser considerado diz respeito a maneira como as informações são passadas. Por isso, utilize sempre frases curtas, claras e objetivas proporcionando um melhor entendimento. Busque ajudar a criança autista na organização do seu discurso, de modo que haja uma sequência lógica e coerente. Também incentive a utilização do pronome na primeira pessoa quando a criança ainda não consegue utilizá-lo.

Em se tratando de autistas verbais, é preciso ensiná-los a utilizar as trocas de turnos no diálogo, assim aprenderão desde cedo a respeitar o momento de cada um na comunicação verbal. Como também é importante ensinar a compreender os marcadores que dão indícios de quando uma conversa inicia ou termina.

Na relação criança/criança é necessário esclarecer comentários dos coleguinhas de sala. Deve-se sanar possíveis mal-entendidos, como também explicar metáforas, piadas, ironias e algumas expressões de difícil entendimento para o aluno.

Ao iniciar um diálogo, opte por assuntos que façam parte dos interesses restritos da criança. Isso gera motivação e interesse inicial pela conversa, em seguida você introduz outros temas e elementos no discurso. Na presença de ecolalias, tanto tardias como imediatas, e de perguntas repetitivas busque atribuir um significado para elas, trazendo-as para dentro de um contexto significativo e continue o diálogo.

O mediador precisa estar atento e responder qualquer som emitido pela criança com autismo, seja ele compreensível ou não. Busque sempre utilizar gestos apropriados, um tom de voz tranquilo e sempre no mesmo padrão vocal (nem alto demais e nem baixo) e uma linguagem corporal que destaque as suas emoções, isto é, use e abuse de expressões faciais.

Na sala de aula, estimule para que o aluno fixe sua atenção nas informações oferecidas pelo professor ou para as atividades que estão sendo realizadas na sala. No recreio, mediar uma melhor interação com outras crianças proporcionando uma comunicação efetiva entre elas e observando o comportamento de cada uma para auxiliar o aluno a como agir em coletivo. De acordo com Renata Mousinho:

“Por esse aspecto, ter um mediador propiciando a aquisição de linguagem e das habilidades sociais no cotidiano escolar amplia a possibilidade da quantidade de estímulo recebido, como também a qualidade, já que a estimulação sempre ocorrerá em situação real de uso, diferente do que se pode proporcionar num consultório. O mediador favorece, por meio da interação, que a criança desenvolva a leitura e ajuste ao contexto social, aprenda a brincar e a fazer amigos, aprenda a mudar o turno nas situações dialógicas, ensina formas convencionais de comunicação, melhora a compreensão da linguagem. Nas crianças que começam a falar tardiamente, facilita o desenvolvimento de vocabulário expressivo durante as rotinas e atividades diárias, expandindo-o.”

Para finalizar, outra dica importante se refere à aplicação dessas sugestões no cotidiano escolar. É de suma importância que o mediador conheça as dificuldades que estão atreladas ao autismo. O profissional deve ser capacitado nessa área, com o intuito de compreender que comportamentos e produções verbais aparentemente sem sentido podem sim ter um significado; esta é uma premissa indispensável para poder fazer uso dessas dicas de modo eficaz. Lembrando que todas as informações aqui compartilhadas só terão real valor se aplicadas com consciência, coerência, ética, conhecimento e principalmente respeitando a individualidade de cada aluno.

A escola, o professor titular e o assistente devem basear suas práticas na compreensão das diferentes características do Transtorno do Espectro Autista, inclui-se dentro do espectro os problemas de interação social, dificuldade na comunicação, interesses restritos e comportamentos repetitivos.

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Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.

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