Como Ensinar a uma Criança Autista? - Carla Ulliane

Como Ensinar a uma Criança Autista?

Compartilhe
  • 1
    Share

Certa vez uma professora me contou sua dificuldade em ensinar um aluno diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela não tinha experiência e isso a angustiava bastante, pois não conseguia ensinar uma criança que interagia pouco com ela e os coleguinhas, não fazia perguntas e nem expressava seus desejos e sentimentos. Ela conduzia suas aulas sem um planejamento específico e individualizado para seu aluno e principalmente se questionava: “Como vou realizar a avaliação se ele não consegue acompanhar a turma?”

O aluno tinha 5 anos e estava matriculada em uma escola regular no nível IV da Educação Infantil. Foi diagnosticado com autismo aos 4 anos por uma Neuropediatra, ele não se comunicava verbalmente e utilizava poucos gestos com intenção comunicativa. Além da ausência de oralidade outros aspectos estavam presentes como: pouca interação com o outro, presença de estereotipias e comportamento bastante inflexível.

Diante das dificuldades a professora não se acomodou  e buscou ajuda com os demais profissionais da escola (professora auxiliar, da sala de recursos e coordenadora pedagógica), como também com os profissionais que acompanhavam o aluno, como: Fonoaudiólogo, Psicólogo e Terapeuta Ocupacional. Por meio de suas pesquisas e muito estudo, ela percebeu que algo necessitava ser modificado, entretanto não sabia como começar! O primeiro passo foi construir o Plano Educacional Individualizado (PEI), buscou inspiração na escola Alexandre Bacchi na cidade de Guaporé no RS.

O que é  Plano Educacional Individualizado (PEI)?

Ensinar um Autista com o Plano de Ensino IndividualizadoO PEI é considerado uma ferramenta para otimizar o processo de ensino-aprendizagem de alunos com deficiência, ele é um recurso pedagógico com foco individualizado no aluno. É importante destacar que essa ferramenta é construída de forma colaborativa juntamente com a professora da sala regular, sala de recursos, a coordenadora pedagógica, os pais e os profissionais que acompanham a criança se a escola e a família julgarem necessário. A presença do aluno é viável caso ele possa opinar sobre si e seu processo de aprendizagem.

Segundo autores como Pletsch e Glat existem 3 níveis para a elaboração do PEI. No nível I o professor necessita observar quais são as necessidades educacionais do aluno; no nível II são avaliadas as áreas de conhecimento em que o aluno apresenta mais facilidade e dificuldade para proporcionar as adequações físicas e curriculares necessárias; e por fim, no nível III  ocorre a intervenção propriamente dita, levando em consideração os objetivos elaborados no PEI, como também a reavaliação do aluno.

Como o PEI se torna um recurso de acesso ao Currículo Regular?

Os autores Gleckel e Koretz afirmam ser necessário responder a quatro questões básicas:

O que ensinar?

É necessário elencar prioridades, ou seja, buscar os conteúdos e habilidades no currículo geral que são mais importantes para a criança. Isto é possível analisando quais as necessidades pedagógicas do aluno naquele momento.

Como ensinar?

Proporcionar formas de instrução mais acessíveis ao aluno, de modo que o professor passe o conteúdo de maneira clara e objetiva. Além de buscar quais estratégias, métodos e materiais devem ser utilizados para melhor compreensão do aluno, com o objetivo de ajudá-lo a construir habilidades que ainda não foram aprendidas.

Em que condições?

É importante reorganizar o contexto físico do ambiente para melhor participação do aluno. Promover atividades para serem realizadas em grupo ou isoladamente, aumentar o tempo de realização e adequar o espaço físico e a forma de instrução para otimizar o aprendizado da criança.

Por que ensinar?

Para ensinar um aluno com deficiência é preciso abrir mão do imediatismo e compreender que os resultados aparecem, porém de forma mais lenta e sutil. É imprescindível que o planejamento e as estratégias sejam elaborados de forma colaborativa de modo a alcançar os objetivos propostos pela escola, família e profissionais.  

Para finalizar, vou compartilhar com vocês a experiência e o encontro fantástico dessa escola com a inclusão.

Em um próximo post irei escrever passo a passo como construir o Plano de Ensino Individualizado.

Comente!

RelatedPost

Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.

1 ideia sobre “Como Ensinar a uma Criança Autista?

  • Tenho uma filha que necessita de um PEI.
    A escola me informou que:
    1. Um PEI só pode ser elaborado com um laudo assinado por um neuropsicólogo;
    2. Um PEI só pode ser elaborado após a entrega de exames detalhados da área cognitiva, socio-emocional, etc.

    Essa informação é correta?

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *