O PECS Atrasa a Fala?

Há um tempo que venho plantando a sementinha do PECS nos pais dos meus pacientes com autismo. Algumas crianças diagnosticadas, provavelmente, serão não verbais ou então falarão muito pouco, com isso o uso desse método contribui para o desenvolvimento de uma comunicação funcional.

Para quem não conhece a sigla PECS deriva da expressão Picture Exchange Communication System, isto é, sistema de comunicação por meio da troca de figuras. Esse modelo de tratamento foi desenvolvido com o objetivo de ajudar crianças e adultos com autismo e outros distúrbios do desenvolvimento a construir habilidades comunicativas. O sistema pode ser utilizado tanto com pacientes que não se comunicam quanto com os que possuem baixo desempenho comunicativo. Assim, o PECS busca ajudar a criança ou adulto a perceber que por meio da comunicação é possível alcançar seus objetivos, satisfazer suas necessidades, expressar seus desejos, enfim, estimula-se o despertar para a importância de comunicar-se com o outro e o mundo.

Agora vou compartilhar com vocês um caso que me angustia bastante no consultório. Um casal muito amoroso e dedicado a sua única filha, ela não possui diagnóstico de autismo fechado, mas apresenta algumas características do espectro. A menina está com 4 anos e não se comunica verbalmente, fala apenas mamãe e papai, e percebo uma resistência, principalmente do pai, quanto ao uso do PECS.

Na entrevista inicial com os pais, quando questionados acerca das expectativas para o tratamento fonoaudiológico, a fala do pai foi enfática: “Eu quero que minha filha fale e fique 100%”. Após a avaliação os pais foram chamados e relatada a necessidade da utilização de um sistema alternativo de comunicação. Eu costumo fazer a seguinte pergunta aos pais: “Vocês querem que seu filho fale ou se comunique?” A maioria opta pela segunda opção, com isso instigo uma visão mais ampla sobre a importância da comunicação funcional, sendo a fala um detalhe que aparecerá ao longo da terapia.

O PECS atrasa a fala?

Coincidentemente recebi a mesma dúvida no meu Instagram durante essa semana. Percebo que a utilização desse sistema de comunicação gera muitas dúvidas, principalmente aos pais das crianças com autismo. A pergunta mais comum é: O PECS atrasa a fala? A resposta é NÃO, ele não atrasa ou atrapalha a fala. Dentre os principais benefícios: Ampliação nas habilidades comunicativas, proporciona independência, diminuição de comportamentos inadequados e melhorias na interação social com seus pares.

De acordo com Soraia Vieira, representante do método no Brasil: “A eficácia do PECS é atestada por mais de 100 publicações e este método é de propriedade exclusiva da empresa Pyramid Consultoria Educacional, que possui filiais em 13 países, incluindo o Brasil, desde maio de 2012.”

As pesquisas científicas evidenciam que não há interferência do método no aparecimento da fala, muito pelo contrário os estudos mostram que ele auxilia na sua aquisição, como também no uso de uma comunicação funcional. Apesar de nenhum sistema afirmar com 100% de certeza que uma criança não oralizada possa vir a falar, o PECS proporciona as condições necessárias para a aquisição da linguagem oral, criando oportunidades e incentivando o diálogo e, consequentemente, a utilização da fala.

Se a pessoa atingir um nível de comunicação funcional, provavelmente ela pode optar por suspender o uso do método. No caso daquele que não conseguiu o mesmo objetivo por algum motivo, ou seja ausência de oralidade, a utilização do PECS é um recurso extremamente viável.

Após esclarecer que essa ferramenta não atrasa a fala do seu filho, mas mesmo assim você ainda tem dúvidas acerca dos benefícios desse método? Caso ainda tenha dúvidas deixe seu comentário.

Carla Ulliane

Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.