Como saber se a linguagem do meu filho está atrasada? Parte 2 - Carla Ulliane

Como saber se a linguagem do meu filho está atrasada? Parte 2

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Semana passada duas mães me perguntaram se era normal uma criança de 3 anos não falar quase nada. Isso foi em post em meu Instagram que falava sobre a aquisição da linguagem até os dois anos, Como saber se a linguagem do meu filho está atrasada? Por isso, resolvi escrever a parte 2 do post explicando sobre a aquisição de linguagem entre 2 e 5 anos.

Mas, antes de continuar, vou responder essa dúvida de tantas mães: Não! Não é normal que uma criança com 3 anos não fale! Embora cada criança possua um ritmo único de desenvolvimento e aprendizagem, é preciso estar atenta aos sinais. Uma criança entre um ano e um ano e seis meses com um desenvolvimento adequado estará falando cerca de 20 palavras. Por isso enfatizo: Procure ajuda! Pode ser apenas um atraso ou ser um sintoma de um problema maior. Leia o post anterior para entender melhor sobre a aquisição da linguagem nos primeiros anos.

Entre 2 e 3 anos

Nesse período as frases são constituídas por 3 ou 4 palavras, considerando alguns aspectos importantes:aquisição da linguagem aos dois anos

  • Apresenta algumas alterações na concordância, como também omissão de termos gramaticais como: preposição, artigo ou pronome;
  • Utiliza orações afirmativas, interrogativas (faz uso dos pronomes “que” e “onde”) e negativas (geralmente o “não” aparece no final da frase). Ex: “Onde meu carrinho tá?” e “Que casa vovó não”;
  • Começa a utilizar alguns pronomes pessoais (“você”), possessivos (meu) e demonstrativos (esse), contudo atrapalha-se no uso adequado do gênero. Ex: “Sapato é minha mãe”;
  • A criança conhece entre 200 e 400 palavras. A maioria já apresenta significado lexical, ou seja, as principais categorias já fazem parte do repertório linguístico da criança, como: nome de animais, alimentos, bebidas, pessoas, assim como verbos e alguns adjetivos;
  • Conhece também o que faz parte de sua rotina como objetos, pessoas e atributos (quente/frio, feio/bonito, limpo/sujo);
  • Reconhece pelo menos 4 partes do seu corpo;
  • Começa a falar e compreender advérbios de lugar (aqui, ali, lá, perto). Refere-se ao tempo com alguns advérbios (agora, ontem), mas de maneira inconsistente.
  • São comuns algumas trocas na fala como: [papato] para sapato, [tapo] para sapo, [fe] para café e [doma] para goma. Elas fazem parte do desenvolvimento, mas se persistirem por muito tempo, devem ser tratadas;
  • Utiliza da linguagem oral para expressar suas necessidades, informar algo ou fazer perguntas;
  • A narrativa é auxiliada por meio de perguntas do interlocutor sobre onde aconteceu, o que e com quem;
  • No que diz respeito as habilidades comunicativas a criança consegue iniciar um diálogo, porém não o mantém por muitos turnos. Preferem conversar sobre assuntos conhecidos, com temas concretos e referentes ao tempo presente.

Entre 3 e 4 anos

Nessa fase são utilizadas frases com 5 e 6 palavras. Alguns aspectos são importantes destacar:

  • Utilizam as orações interrogativas com uso dos pronomes “Quem” e “Qual”;
  • Surgem as proposições e artigos. Como também a utilização dos tempos verbais (presente, passado e futuro), contudo ainda apresenta alguns erros de conjugação. Ex: “Esse nenê chora e fazi xixi”.
  • Apresenta um vocabulário em torno de 400 a 600 palavras;
  • Há um aumento significativo de substantivos, verbos e adjetivos. Ex: palavras que expressam emoções (medo, alegria e tristeza), algumas palavras que significam comparação (grande/pequeno);
  • Já conhece mais partes do corpo, entre 5 e 6;
  • Amplia o uso de advérbios de lugar como: em cima/embaixo, dentro/fora, perto/longe. Faz uso do pronome pessoal “eu”;
  • Começa a utilizar e compreender advérbios de tempo como: agora e depois. Mas, confunde-se com alguns advérbios. Ex: “Ontem eu vou na praia”
  • São comuns algumas trocas na fala como: [zelo] para gelo, [teto] para dedo, [pota] para porta e [peto] para preto. Elas fazem parte do desenvolvimento, mas se persistirem por muito tempo, devem ser tratadas;
  • Na narrativa aparecem várias sentenças consecutivas, porém sem muita coerência e coesão. É bastante comum pular alguns elementos da história e inserir fatos inventados, caracterizando a narrativa primitiva;
  • Amplia suas habilidades comunicativas por meio de diálogos maiores com mais turnos e mais de uma oração. No entanto, muda de tema com facilidade e sem as estratégias necessárias, como também não se corrige quando o outro não a compreende

Entre 4 e 5 anos

Nesse período a criança utiliza períodos simples e compostos. Alguns aspectos são importantes destacar:crianças pequenas começando a falar

  • Os pronomes e artigos são flexionados corretamente quanto ao gênero;
  • Faz uso adequadamente dos tempos verbais (presente, passado e futuro) dos verbos regulares;
  • Alguns verbos irregulares não tão conhecidos ainda podem sofrer com alteração em sua concordância. Ex: “Eu trazo para você”;
  • Apresenta um repertório linguístico composto entre 600 e 1500 palavras;
  • Aumento significativo de substantivos, verbos e adjetivos;
  • Ainda persiste a instabilidade no uso e compreensão de alguns advérbios de lugar e tempo;
  • Começa a utilizar e compreender pronomes indefinidos como: outro, alguém e ninguém;
  • São comuns algumas trocas na fala como: [save] para chave, [tevisão] para televisão e [glama] para grama. Elas fazem parte do desenvolvimento, mas se persistirem por muito tempo, devem ser tratadas;
  • A narrativa se encontra coerente, contudo os elementos de coesão ainda são primários;
  • As habilidades comunicativas se mantêm igual a fase anterior.

Como já tinha dito no outro post, se por acaso seus filhos não esteja exatamente nesse ‘padrão’, não se apavorem. Cada criança apresenta suas particularidades e a aquisição da linguagem depende muito de um ambiente rico em estímulos. Neste post dei algumas dicas para estimular a linguagem. Contudo, se o atraso for muito discrepante com relação as outras crianças, é recomendável que os pais procurem ajuda profissional, no caso o Fonoaudiólogo.

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Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.

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