Como saber se a linguagem do meu filho está atrasada? - Carla Ulliane

Como saber se a linguagem do meu filho está atrasada?

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Quem tem filhos pequenos sempre está preocupado com a linguagem. Você sabe se seu filho está atrasado para a idade?

Aqui farei um resumo sobre os principais aspectos na aquisição da linguagem oral de crianças até os dois anos de idade. Por que exatamente esse período? Bem, simplesmente porque os dois primeiros anos de vida são cruciais no que diz respeito à linguagem, lembrando que a comunicação não inicia quando a criança fala apenas, mas sim desde o momento em que o bebê nasce.

Desse modo, desde cedo o bebê se comunica por intermédio do choro, que de indiferenciado passa a se tornar diferenciado, pois ele fala sobre as necessidades básicas, como: comer, dormir ou quando sente alguma dor ou desconforto. Esse choro é uma forma de comunicação e interação também, lembrando que, neste momento, apenas a mãe compreende devido ao tipo de choro produzido, sendo este caracterizado por diferentes padrões de entonação, intensidade e ritmo.

De acordo com a Fonoaudióloga. Dr.ª Simone Hage, o desenvolvimento normal da linguagem a partir do nascimento até a idade de 2 anos ocorre de acordo com tais características:

Recém-nascido e 1 mêsA linguagem do recém-nascido

Nesse período, há presença do choro como uma reação biológica a dor e a fome por exemplo. As vocalizações são esporádicas, reflexas e não estão necessariamente relacionadas a algum tipo de sensação. Nessa época, o bebê costuma acordar com sons muito intensos.

2 e 3 meses

Neste momento, o choro torna-se diferenciado, ou seja, a mãe e os cuidadores já conseguem distinguir o choro de fome, dor e “manha”. As vocalizações e risos estão relacionadas a sensações prazerosas, como: ao se alimentar e tomar banho. Apresentam também variação na altura e duração (independente da língua pronunciada no ambiente em que vive), já começa a reagir a fala humana por meio de olhares, sorrisos e vocalizações, além de começar a procurar a fonte sonora e prestar atenção quando é chamado.

4 e 5 meses

Neste período, aparecem os chamados “jogos vocais” ou “auto-balbucio”, assim o bebê começa a brincar como os sons que ele emite, porém os mesmos ainda não apresentam função comunicativa.

O balbucio é indiferenciado, isto é, o bebê solta sons tanto na inspiração como na expiração, repetição da mesma sílaba (/papapa/, /mamama/), lembrando que isso ocorre independente da língua falada ao redor.

6 e 7 meses

Nesta fase, os bebês participam de maneira mais frequente e ativa com seus “cuidadores” por meio do riso, expressão facial, movimentação do corpo e principalmente vocalizações. Agora, começa a surgir o balbucio diferenciado com repetição contínua de sílabas variadas (/padada/, /dadapama/).

Expressam seus desejos, olhando e/ou apontando para os objetos, mas sem dirigir seu comportamento tanto vocal como motor ao outro. Já localizam o som horizontalmente.

8 e 9 meses

Nesta época, aparecem os comportamentos comunicativos funcionais, como: dirigi-se ao outro por meio de gestos e vocalizações para conseguir o que deseja, geralmente um objeto ou uma ação deste.

Começa a repetir os sons emitidos pelas outras pessoas e a responder a perguntas e/ou imperativos (“não…”, “para…”) rotineiras com ações não verbais, além de localizar a fonte sonora abaixo da sua cabeça.

10 e 11 meses

Criança pequena no parque com ursinhoNeste momento, já começa a participar das atividades dialógicas por intermédio do uso de jargão (o encadeamento de vogais e consoantes variadas com entonação da língua materna).

Pode apresentar idiossincrasias, isto é, sequências fonéticas consistentes e com significado específico, por exemplo: (/dalili/ para se referir a dormir). Além disso, pode apresentar repetições de palavras ditas pelos outros, contudo a repetição não possui o mesmo padrão silábico, como: (dorme! “mimi”)

Entre 1 e 2 anos

Nesta fase, comunica-se com o outro de modo a expressar suas necessidades, chamar a atenção, informar e perguntar algo. Assim, apresenta uma linguagem funcional, mesmo apresentando ou não limitada estrutura linguística. Algumas características são importantes serem observadas:

  • Emite palavras idiossicráticas, isto é, apenas os familiares sabem o significado. Ex: [dalidali]- “quero dormir”.
  • Presença de palavras contextuais, ou seja, que são emitidas em situações e contextos específicos. Ex: Cabô- somente quando acaba a comida do prato.
  • Sócio-pragmáticas são palavras utilizadas para cumprir funções sociais em contextos de interação com outras pessoas. Ex: tchau- quando a pessoa vai embora.

As crianças mantêm o diálogo por intermédio de:

  • Especularidade, ou seja, constroem seu turno com parte do enunciado doCrianças pequenas interagindo outro. Ex: Adulto: Vamos passear! E a criança responde “sia”.
  • Complementaridade, isto é, constituem seu turno com parte do enunciado do outro, complementando com uma ou mais palavras. Ex: Adulto: Onde você quer ir passear? E a criança responde: “que sai boque”.
  • Utilização de jargão associado a palavras isoladas. Ex: [yneka]- parece ter dito: “cadê a boneca?”.
  • Uso de fala formulaica que são unidades linguísticas que substituem uma oração. Ex: [aboveti]- quer dizer: “acabou o sorvete”.
  • Construção de orações com dois vocábulos apenas. Ex: [may leti]- quer dizer: “dá mais leite”.

No que se refere à compreensão, a criança já consegue:

  • Compreender ordens ou afirmações da sua rotina, como: Adulto: “É hora de comer”- a criança vai à cozinha.
  • Entende ordens rotineiras com duas ações concomitantes: Adulto: “Pega a chave e põe na gaveta”- a criança assim o faz.

Se por acaso seus filhos não se encaixem nesse padrão de normalidade não se preocupem, pois cada criança apresenta suas particularidades e a aquisição da linguagem depende muito de um ambiente rico em estímulos (neste link dou algumas dicas para estimular a linguagem). Contudo, se o atraso for muito discrepante com relação as outras crianças é recomendável que os pais procurem ajuda profissional, no caso o Fonoaudiólogo.

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Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.

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