Carla Ulliane

Brinquedo: Qual o recomendado para meu filho?

Ao acompanhar crianças com atraso na aquisição da linguagem oral, pude perceber no discurso dos pais que seus filhos não tem interesse pelos brinquedos. Muitos são comprados e acabam guardados ou jogados em um canto da sala. Diante disso, podemos nos questionar: O que causa tamanho desinteresse?

Bem, podemos citar inúmeras razões, mas existem algumas que não podem ser desconsideradas. A primeira é que muitos pais compram brinquedos para crianças com idades mais avançadas, com o objetivo de acelerar o seu desenvolvimento, contudo esses brinquedos geram desinteresse e desestimulam o brincar.

A segunda razão é a quantidade exagerada de brinquedos, pois ao vivermos em uma sociedade consumista as crianças aprendem desde cedo a se tornarem colecionadores de brinquedos. Muitas delas pedem vários brinquedos aos pais, porém o intuito não é o de brincar, mas sim mostrar para os coleguinhas, considerando que essa “competição” não deve ser estimulada em casa e nem na escola.

A terceira razão refere-se que, atualmente, os pais sem tempo tendem a substituir o ato de sentar no chão e brincar com seus filhos pela compra de um brinquedo, entretanto é necessário compreender que a brincadeira em si é mais importante que o brinquedo. A interação com a família e outras crianças são fatores insubstituíveis em todas as idades. Em suma, o que favorece a aquisição da linguagem na criança é a interação, logo os pais precisam (re)aprender a brincar.

A solução proposta é explicar aos filhos que nem tudo pode e deve ser comprado, como também buscar atrair a criança para brincadeiras que não precisem necessariamente de brinquedos, por exemplo: brincar de esconde-esconde, pega-pega, cantar músicas infantis e histórias, essas atividades além de estimular o desenvolvimento das habilidades psicomotoras, também colaboram no uso da imaginação ao ouvir e recontar uma história e fortalecem o vínculo familiar.

Seguem algumas sugestões de brinquedos recomendados para cada fase da criança:

0 a 12 meses

Nessa fase, são recomendados brinquedos coloridos, sonoros e que fiquem nas mãos dos bebês, pois enquanto a criança não anda o ideal é um brinquedo que não se mova muito. Nos três primeiros meses, podem ser utilizados os móbiles coloridos para colocar no berço e que sejam manipuláveis pela criança, pois o movimento de tentar pegar e segurar o objeto já estimula o desenvolvimento da coordenação motora, como o uso de chocalhos.

Quando os dentes começam a aparecer por volta dos 7 meses é importante o uso de mordedores. Nessa fase, os cinco sentidos estão aflorados e é comum a criança levar tudo a boca, assim o uso do mordedor estimula a dentição.

A partir dos 9 meses, podem ser utilizados brinquedos de encaixes simples e de montar com peças grandes. Também podem ser utilizados objetos com diferentes texturas para explorar a sensibilidade, por exemplo: bolas e dados de tecido ou outro material lavável.

As músicas são importantes ferramentas de interação, pois desde o útero o bebê tem contato com o mundo externo por intermédio dos sons. No entanto, a televisão e brinquedos eletrônicos não são recomendados para essa fase, devido a imagem que se forma na TV não ser nítida para o bebê, deixando-o confuso. Já os brinquedos eletrônicos costumam ser muito barulhentos causando estresse desnecessário.

Aos dez meses, o bebê apresenta uma mobilidade maior e que deve ser estimulada com o uso de brinquedos e objetos nos quais possa se apoiar. Nessa fase, é importante também oferecer brinquedos com espelhos para que a criança possa se reconhecer.

1 a 3 anos

Nessa fase, a criança apresenta mais movimentos e os brinquedos devem incentivar para que os primeiros passos surjam, também é importante propiciar o equilíbrio. Alguns podem ser usados como: brinquedos de puxar e empurrar. O uso de bonecas(os) grandes auxiliam o pegar, apertar e a reconhecer as partes do próprio corpo no brinquedo. São sugeridos também brinquedos com peças de tamanhos variados e que possam ser colocados um dentro do outro, isso permite o reconhecimento das diferentes formas e a noção de espaço ao utilizar essas peças de encaixe. Também recomenda
-se livros de panos com figuras simples, triciclos com ou sem pedal e cavalinho de balanço.

É de suma importância incentivar a interação com outras crianças, principalmente no período em que está aprendendo a andar. Podem ser utilizadas bolas grandes e pedir que tentem chutar para seu amiguinho(a).

3 a 5 anos


Nessa fase, ocorre o auge do mundo da fantasia, assim o ideal é utilizar brinquedos que ampliem o imaginário infantil, desse modo os pais devem começar a contar histórias e principalmente brincar de “faz-de-conta”. Além da brincadeira simbólica, podem ser inseridos o uso de fantoches, máscaras, fantasias, livros para colorir e desenhar, pois a criatividade corre solta nessa fase.

5 a 7 anos

Nessa fase, inicia-se a estimulação do processo de alfabetização, logo são interessantes jogos com letras e brincadeiras que envolvam o alfabeto, como o alfabeto de madeira e livros com textos curtos.  A partir dos 5 anos, as brincadeiras alcançam um outro nível de sofisticação, assim já podem ser inseridas bonecas (os) menores, bem como alguns jogos como dominó, dama, ludo, quebra-cabeça com mais peças e carrinhos menores. Nesse período, é necessário estimular o desenvolvimento físico da criança, recomenda-se jogos com o intuito de valorizar o processo criativo e a interação em grupo.

7 a 10 anos

Com o passar do tempo, a criança começa a priorizar brincadeiras com um alto nível de sofisticação, tendo em vista que a competitividade se acentua nessa fase e a preferência está voltada para atividades de raciocínio lógico. Kits de profissões, como mecânico, médico, cientista e cozinheiro, e jogos mais complexos são ideais para essa fase. O desenvolvimento físico é bastante estimulado com a utilização de bicicletas, skates e patins.

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Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.