Carla Ulliane

Como agir diante da gagueira do meu filho?

A ideia central desse post não é falar sobre conceito, causas ou dicas para quem gagueja, o foco central está no aconselhamento aos pais de crianças com gagueira, pois a participação dos responsáveis é de suma importância no tratamento. Acredito que alguns pais já devem ter ouvido frases como:

Bem, essas frases provavelmente foram ditas por pediatras, professores, familiares e amigos. A grande questão é que esses conselhos são válidos apenas para quem apresentou episódios de disfluência (gagueira) por uma determinada fase, sendo que esta passou com o tempo e a maturidade da pessoa. No entanto, para aquelas pessoas que permanecem gaguejando, ao receberem esses conselhos lá na infância, os mesmos afastaram qualquer tentativa de esclarecimento sobre o assunto, sobretudo tratamento.

De acordo com Regina Jakubovicz, é necessário um trabalho de prevenção acerca desse distúrbio severo e crônico, pois o mesmo cresce com o tempo e traz consigo prejuízos sérios nas esferas socais e pessoais. É importante para os pais promoverem esse trabalho de prevenção na infância.

Por isso, foram elencadas aqui 3 dicas para agir da melhor maneira diante da gagueira do seu filho:

(Re)aprenda a ouvir

A criança de 2 a 6 anos está no período de aquisição de linguagem. É nessa época que acontece um rápido crescimento de vocabulário e na habilidade de construir frases. Com isso, a criança fala demasiadamente e sente a necessidade de expor suas ideias, contudo às vezes os pais não conseguem arrumar tempo para ouvi-la. Então, uma dica importante nessa fase é: aprenda a ouvir pacientemente e com atenção.

Antes de modificar seu modo de ouvir, primeiro é fundamental descobrir que tipo de ouvinte você é. Caso perceba que, às vezes, não tem paciência de escutar o que seu filho tem a dizer, aparenta cansaço em uma conversa informal entre vocês, ou mostra-se irritado com a maneira dele falar, então busque modificar essas atitudes, pois seu filho pode interpretá-las como repressão à sua fala, como também desinteresse no que está sendo dito.

Converse com seu filho tranquilamente

Busque ajustar seus horários durante o dia para que você possa sentar e conversar com seu filho de maneira tranquila, sem tantas interferências externas. Mesmo que as modificações sejam mínimas e alterem muito pouco sua rotina, para seu filho farão uma enorme diferença, além de possibilitar um melhor relacionamento entre falante e ouvinte. Quando estiver mantendo um diálogo, lembre-se de olhar para outro enquanto fala, pois essa atitude demonstra interesse. Bem como mantenha os braços e pernas descruzados, pois mostra motivação para participar da conversa.

E principalmente, não faça comentários como: “Você está falando muito rápido” ou “Respire antes de falar”, pois essas mensagens dão a entender que você não está prestando atenção ao conteúdo, assim como que seu filho não está conseguindo expressar suas ideias de forma clara.

Não estimule a gagueira do seu filho

Os pais necessitam mudar seu modo de falar com seus filhos que estão gaguejando, o primeiro passo é falar mais devagar. Como sabemos, não é fácil modificarmos nossa maneira de falar, por isso uma dica importante é: treinem com um gravador o novo ritmo de fala, pode-se utilizar a estratégia do falar em câmera lenta, sendo que as palavras aparecem uma atrás da outra, assim considera-se o ritmo arrastado.

Outra dica importante é aumentar o número de pausas durante o discurso, ou seja, pare de vez em quando para respirar. Dessa forma, você oferecerá um modelo adequado para seu filho, além de diminuir a pressão do tempo que normalmente a fala rápida proporciona. Ensine a importância do silêncio, assim seu filho aprenderá que nem todas as ocasiões necessitam obrigatoriamente ser preenchidas com fala. Logo, ele descobrirá que é possível manter um diálogo sem tanta pressão e ansiedade.

Para finalizar, permita que cada pessoa da família exponha suas ideias e opiniões, lembrando que se a criança que está começando a gaguejar for interrompida toda hora com frases do tipo: “Fale devagar”, “Respire fundo”, ou então se o ouvinte ficar completando seu discurso ou adivinhando o que o outro vai falar, com toda certeza isso trará transtornos futuros para manter a fluência nas outras fases da vida.

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Fonoaudióloga e Mestre em Educação pela UFS, Carla Ulliane atende crianças autistas e com atrasos na aquisição da linguagem. Além de clinicar, presta serviços de consultoria em Educação Inclusiva e ajuda os pais a lidar com o peso do diagnóstico de autismo como Coach.